terça-feira, 2 de agosto de 2011

Para meus amigos...

Quinze dias depois de Lucas ter nascido pouca gente me ligava e eu ficava imaginando que não queriam me incomodar, mas eu sabia que alguma coisa estava acontecendo porque recebi algumas visitas no hospital e em nenhum momento escondi a surpresa que a vida me fez.
Sabia também que todas aquelas pessoas que foram me visitar são muito queridas e gostam muito de mim. Com certeza estariam preocupadas com a minha reação, rejeição, essas coisas.
A descoberta não foi fácil para mim. Durante mais ou menos 30 dias eu sofri, chorei e fiquei preocupada com o futuro do meu filho.
Mas, nunca o rejeitei.
Bom, eu tinha certeza de que meus amigos estariam preocupados comigo e resolvi escrever para eles. E foi assim que os deixei mais tranquilos sabendo que eu estava bem.
O e-mail foi assim:
Olá meus queridos... Finalmente consegui um intervalo (entre as trocas de fraldas, amamentação e cuidados com Lucas, além das brincadeiras e atenção dispensadas a um irmão mais velho bem ciumentinho) e venho aqui trazer notícias para vocês.
Hoje completam quinze dias do nascimento de meu pequeno Lucas, que nasceu no dia 12 de abril, às 17h45min, medindo 50 cm e pesando 3,490 kg.
Foi um final de tarde um pouco agoniado naquele dia. Lembro-me que saímos (eu, Marcelo, Mateus e Cris) um pouco atrasados de casa e chegamos ao hospital recebendo telefonemas da obstetra que já estava por lá, as enfermeiras me examinando, tudo muito corrido... Entrei no centro obstétrico e não conseguia nem me concentrar em uma oração.
O anestesista chegou, teve que me furar duas vezes, porque eu me mexia e a agulha não pegou na vértebra certa por duas vezes (isso doeu) até que não senti as minhas pernas... Tudo pronto. Começou a cirurgia. Foi tudo bem. Mas, Lucas demorou de chorar, fiquei bem apreensiva até que ouvi o choro do meu filhotinho (esse é um momento emocionante sempre) e vi o meu anjinho lindo, dei beijinho no pé e ele seguiu para os cuidados neonatais. Senti falta da minha obstetra nessa hora, ela tinha “sumido”.
Percebi algo diferente do meu primeiro filho, mas dopada que estava não consegui entender exatamente o que era.
Já no quarto, a minha obstetra voltou para ver como eu estava.
A enfermeira chegou ao quarto com Lucas, mas Marcelo não veio junto, minha mãe sumiu também... Meu Deus, eu realmente não entendia o que estava acontecendo...
Até que olhei para o meu filho e lembrei de um sonho que tive quando estava grávida de Mateus: sonhei com uma criança especial. Mas que não veio naquela ocasião...
Pois é. Até aquele momento e até a manhã do dia seguinte, ninguém me contou, mas eu vi: Lucas é uma criança que precisa de cuidados especiais.
De manhã a pediatra veio conversar comigo, o pai da minha obstetra (que também é obstetra) veio também e aí me foi confirmado: meu filho é portador da Síndrome de Down. Eu chorei... Aliás, chorei muito... Na minha gravidez toda, nenhum exame tinha detectado qualquer coisa parecida. Estava tudo sempre “normal”. Não conseguia entender como tinha acontecido. Não foi fácil receber essa notícia em pleno pós-parto.
Daí em diante uma chuva de informações que confesso, ainda não consegui digerir. Muita gente tentando me consolar, muita gente para me ajudar... E de repente eu me sentia um pouco vitimada, sabe? Não é uma sensação que me agrada e além do que, em nenhum momento eu rejeitei aquela criança. Muito pelo contrário, eu já o amava na minha barriga, eu já o queria muito desde lá. Lucas é meu filho querido, tanto quanto Mateus; e eu sei que teremos que vencer uma batalha por dia (o que inclusive já começou) de consultas médicas, exames, fisioterapia, e outras coisas que nem faço idéia ainda.
O que posso garantir a todos vocês é que Lucas é um abençoado porque ele veio para uma família pronta para acolhê-lo. Um lar que transpira amor; Lucas é um iluminado, como o próprio nome dele diz, porque ele veio para trazer luz para a minha vida, a do pai dele e a do irmão. Lucas é uma criança muito amada e que já é muito feliz por merecer tudo isso. E eu tenho certeza de uma coisa: ele me escolheu para ser a mãe dele e eu escolhi ter ele como meu filho. Nós vamos aprender muitas coisas, mas por enquanto, já sentimos uma satisfação muito grande em estar vivendo juntos cada momento desde o último dia 12 de abril. Porque Deus nunca erra...

Um beijo em cada um,
Vaneska.

5 comentários:

  1. Neska, concordo plenamente com tudo que você escreveu, Lucas é realmente ILUMINADO, você é uma super Mulher (Super Mãe), ele escolheu você como se escolhe um prêmio sem saber o que vai ganhar.

    Te adoro.

    ResponderExcluir
  2. Sua história se parece muito com a minha, tb fiquei sabendo somente após o parto, e te tigo que sei tudo que vc sentiu. Mas como você encerra seu e-mail: "Deus Nunca erra". Deus abençoe o Lucas, a minha princesa se chama Ana Julia, esta com 7 meses, minha maior preocupação neste momento, é a cardiopatia que acompanha a SD, minha bebê tem DSAVTotal, e terá que fazer uma cirurgia em breve. Mas confio em Deus, que tudo ficará bem. beijos, tudo de bom

    ResponderExcluir
  3. Desculpe não disse mau nome: Flávia, mãe da Ana Julia, da comunidade Sindrome de down vida e luta.

    ResponderExcluir
  4. Flávia, adotei um mantra em minha vida que diz assim: "vai dar tudo certo!". Ana Julia vai ficar bem, entregue a Deus e ore muito que sua bebezinha vai ficar bem. Vou orar por ela também e me dê notícias!

    ResponderExcluir
  5. Nossa Flor me identifiquei tanto no seu texto de apresentação...Vivemos praticamente as mesmas sensações...

    ResponderExcluir

Recalculando Rota*

A ideia de escrever esse texto surge de uma necessidade absurda de expressar a minha gratidão. Sim, esse é o sentimento mais marcante dessa...