sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Sobre luto.

Há mais de quinze dias que esse tema me incomoda. E no início da semana ele veio à tona de uma forma ainda mais intensa e que tem movimentado os meus pensamentos.

Eu não sou psicóloga, médica, nada da área de saúde. Sou apenas mãe. E confesso a vocês, com tranquilidade, que nunca teria a capacidade de denominar de luto o meu sentimento quando Lucas nasceu.

Mas, foi assim que me disseram no hospital, foi o que algumas mães e familiares de pessoas com síndrome de Down e muitos terapeutas de Lucas me disseram também. Na verdade, eu sentia medo, angústia e até frustração. Mas, acreditei que tudo isso representava o meu “luto”. E assim eu reproduzi para muita gente: eu sofria porque sentia o “luto pela morte do filho idealizado”.

Prossegui minha vida então, superando as dificuldades e tendo a certeza de que eu estava partindo “do luto à luta". Quando, na verdade, eu sei que estava apenas cumprindo aquilo que, com todo o meu amor, acreditava que devia ser feito. Mas, eu chorei muito, senti angústia, tive medo, pensei nas dificuldades que as pessoas com deficiência (e seus familiares) enfrentam, sofri pensando no futuro. Tudo isso, porque eu permanecia envolvida em preconceitos decorrentes da minha falta de conhecimento.

Foi então que pouco mais de um ano do nascimento de meu pequeno, eu perdi uma das pessoas mais importantes da minha vida. Eu perdi minha vó Rosa. E eu nunca tinha sentido nada igual ao que eu senti naquele dia. Aquilo era luto. Eu tinha perdido a minha amada. E eu chorei um choro muito diferente, compulsivo, doloroso. 

Dali em diante eu tive certeza de que o que eu senti quando Lucas nasceu não tinha nenhuma relação com luto. Eu senti, sim, tristeza, medo, frustração porque não estava nos meus planos. Acredito que em minha humanidade isso seja perfeitamente normal e compreensível. Mas, luto não... meu pequeno trouxe vida, ele tinha acabado de nascer. Ele não merecia que eu me sentisse enlutada. E digo mais: eu ainda me senti culpada por ter aceitado chamar de luto o meu sentimento por meu filho que tinha acabado de nascer!

E quanto mais o tempo passava e eu amadurecia, mais certeza eu tinha de que Lucas me trouxe luz, paz, energia, coragem, alegria, força e muito amor. E é isso que um filho nos traz. Qualquer filho. Basta a gente olhar para ele e respeitar que ali tem outra pessoa, com suas características, habilidades e limitações.


O que eu quero com esse texto é ajudar outras mamães, independente de qual seja o diagnóstico dos seus filhos, a resignificarem esse sentimento, e se preencherem de amor. Porque o amor cura tudo.  

2 comentários:

  1. Boa noite!

    Acabei de ler o texto sobre o luto do filho idealizado. Eu ainda estou de luto, vivendo um dia pos outro porque sei que a minha missão aqui continua ate o dia em que minha senha for chamada. Sou a Edy a mãe do anjo Beatriz que partiu á hum ano atras. Viver cada dia sem sentir seu cheiro, sem toca-la, sem ouvir sua voz, sinto os meus braços vazios na hora de dormir porque ela so dormia aconchegada em meus braços, acordar todas as manhãs sem ouvir um bom dia mamãe, confesso que ja sentir vontade de morrer, mas Deus tem falado comigo que minha missão ainda não acabou e me deu um novo sonho. Estou escrevendo um Livro contando a historia de amor, fé, rejeição e graça. A historia de Beatriz tenho certeza que ira impactar muitas pessoas pois é um projeto do coração de Deus. Ainda estou escrevendo, mas ja estou na fase final, ate passar pela edição e tudo mais, so Deus sabe quando ficará pronto. Quero de todo coração agradecer a voces em especial a voce Vaneska por ter publicado nossa historia que muitas pessoas viram e menadaram ra eu ne sabia ate que algumas amigas me enviaram o Blog. O nome do livro sera " Um Anjo Em Nossas Vidas". Assim que estiver pronto enviaremos um exemplar pra voces, a verba desse livro sera destinada a ajudar outras crianças que assim como Beatriz foram rejeitadas e que merecem e podem ter seu futuro transformado. Obrigada mais uma vez e que Deus continue abençoando esse trabalho de voces.

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  2. Edy, minha querida, eu arrepiei inteira lendo o seu comentário. Senti uma emoção imensa e gostaria muito de te abraçar neste momento. Mas, fiquei muito orgulhosa da sua decisão de contar essa linda história em um livro. Eu faço questão de te ajudar na divulgação desse tesouro que reverberará Beatriz em sua vida, na minha vida e na de todos que o lerem. Conte comigo de coração.
    No mais, eu gostaria muito de que esse comentário seu fosse lido por muita gente!
    Gratidão, minha querida. E que Deus, nosso pai, te cuide, te oriente, te faça suportar essa saudade e continuar a vida. Meu coração neste momento está junto ao seu, conectado e cheio de amor.
    Fica com Deus.

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