Há mais de quinze dias que esse
tema me incomoda. E no início da semana ele veio à tona de uma forma ainda mais
intensa e que tem movimentado os meus pensamentos.
Eu não sou psicóloga, médica,
nada da área de saúde. Sou apenas mãe. E confesso a vocês, com tranquilidade,
que nunca teria a capacidade de denominar de luto o meu sentimento quando Lucas
nasceu.
Mas, foi assim que me
disseram no hospital, foi o que algumas mães e familiares de pessoas com síndrome
de Down e muitos terapeutas de Lucas me disseram também. Na verdade, eu sentia
medo, angústia e até frustração. Mas, acreditei que tudo isso representava o
meu “luto”. E assim eu reproduzi para muita gente: eu sofria porque sentia o “luto pela morte
do filho idealizado”.
Prossegui minha vida então,
superando as dificuldades e tendo a certeza de que eu estava partindo “do luto à luta". Quando, na verdade, eu sei que estava apenas cumprindo aquilo que, com
todo o meu amor, acreditava que devia ser feito. Mas, eu chorei muito, senti
angústia, tive medo, pensei nas dificuldades que as pessoas com deficiência (e
seus familiares) enfrentam, sofri pensando no futuro. Tudo isso, porque eu permanecia
envolvida em preconceitos decorrentes da minha falta de
conhecimento.
Foi então que pouco mais de um
ano do nascimento de meu pequeno, eu perdi uma das pessoas mais importantes da
minha vida. Eu perdi minha vó Rosa. E eu nunca tinha sentido nada igual ao que
eu senti naquele dia. Aquilo era luto. Eu tinha perdido a minha amada. E eu
chorei um choro muito diferente, compulsivo, doloroso.
Dali em diante eu tive certeza de
que o que eu senti quando Lucas nasceu não tinha nenhuma relação com luto. Eu
senti, sim, tristeza, medo, frustração porque não estava nos meus planos. Acredito
que em minha humanidade isso seja perfeitamente normal e compreensível. Mas,
luto não... meu pequeno trouxe vida, ele tinha acabado de nascer. Ele não
merecia que eu me sentisse enlutada. E digo mais: eu ainda me senti culpada por
ter aceitado chamar de luto o meu sentimento por meu filho que tinha acabado de
nascer!
E quanto mais o tempo passava e eu
amadurecia, mais certeza eu tinha de que Lucas me trouxe luz, paz, energia,
coragem, alegria, força e muito amor. E é isso que um filho nos traz. Qualquer filho.
Basta a gente olhar para ele e respeitar que ali tem outra pessoa, com suas características, habilidades e limitações.
O que eu quero com esse texto é ajudar
outras mamães, independente de qual seja o diagnóstico dos seus filhos, a resignificarem esse sentimento, e se preencherem de amor. Porque o amor cura tudo.