sábado, 9 de março de 2013

Post Comemorativo: Arthur, o Belo Rei!


Um cromossomo a mais... e tantas coisas para aprender. Apenas um cromossomo a mais e algumas mudanças na rotina. Um cromossomo a mais e o privilégio de poder viver na prática o valor de cada conquista, mesmo as mais elementares. A cada dia, uma nova etapa vencida. 

Apenas um cromossomo a mais e o aprendizado eternizado de que todos somos diferentes, mas o amor nunca. Porque o amor não conta cromossomos. 

E hoje, o depoimento de Cynara, mais uma amiga querida. Mãe amorosa, dedicada e orgulhosa. Mais uma que foi surpreendida em um momento tão delicado, e que nos prova como as adversidades são superadas de uma forma muito mais tranquila quando existe amor, dedicação e fé.

"Tínhamos a vida toda planejada... Sempre foi assim. Estudo, casamento, casa, férias. Tudo milimetricamente organizado e planejado. Até que a vida nos prega uma dessas, em que você se pergunta mil vezes: por que, para que, como assim? Mas, nenhuma dessas perguntas tem respostas. 

Aos seis meses de gravidez descobri que Arthur tinha um problema cardíaco raro e grave chamado Anomalia de Ebstein e uma Atresia Pulmonar, por onde só passava um milímetro de sangue. Sobreviver na gestação já era um milagre.

Num “vai e vem” de consultas, eis que chegamos a um cirurgião famoso em Salvador, que diante do caso grave e atípico, sugeriu a interrupção da gravidez... Como assim? Foi a primeira pergunta que me fiz. Já que a Cardiopediatra nos tinha indicado algumas opções em São Paulo, e um deles era referência mundial no caso, chamado Dr. Jose Pedro da Silva, não pensamos duas vezes e no dia 13/11/2008 aportei em São Paulo, sem saber o que me esperava. Até então nem sonhava que ainda descobriria a maravilha da vida que é ser mãe de uma criança com síndrome de Down.

Arthur nasceu prematuro de oito meses (por ironia do destino a bolsa estourou no final do filme que deu origem ao seu nome: Rei Arthur). E com seis dias de vida, fez a cirurgia de grande porte (a reconstrução da válvula, correção da atresia e outras pequenas intervenções que precisaram ser feitas). Foram 6 horas de cirurgia, ansiedade, tensão, medo e FÉ! Mas ao conversar com o cirurgião após a cirurgia, ele comentou: “Ah, vocês que são pais do Arthur, o Ebstein Baiano. Ele tem síndrome de Down não é?”. Como assim?  Eu me pergunto de novo.

Estava ainda aprendendo a lidar com o mundo da cardiopatia congênita e a vida me apresenta outra situação? Mas, o que era mais importante: lutar pela sua vida ou entender o que viria ser a síndrome de Down? Optamos pela primeira. Não nos interessava saber o que aconteceria ou o que fazer, nós tínhamos que dar um passo de cada vez.  E com incertezas médicas, porque Arthur é muito parecido com o pai, que tem o olhinho meio puxado, e sem poder fazer cariótipo pelas inúmeras transfusões de sangue, fomos encarando a dúvida, estudando na internet, conversando, buscando. 

Era uma estimulação precoce cheia de amor de pai e mãe entre fios, acessos venosos e suporte de oxigênio. E lá se foram três paradas cardíacas, instabilidade na recuperação, quatro meses de UTI (onde só o víamos duas vezes ao dia), nove meses de internação na Beneficência Portuguesa em SP, longe da família, dos amigos, da vida. Parecia que tínhamos sido transportados pra outro mundo. Íamos esperando o dia de voltar pra casa!

E quando esse dia chegou fomos recebidos com tanto amor, tanta união, tanta expectativa que começamos a entender as respostas de algumas perguntas. E já são quatro anos de vida! 
Carinho de pai...

Arthur ainda tem dificuldades motoras, está na escola, vive a sua vida normal, alegre e feliz! Muitas mães sofrem o que chamam de luto após a notícia, mas eu não tive esse direito. E agradeço por isso!

 Lindo de viver!

O Amor é tão maior, os valores que passamos a dar são tão mais grandiosos que superam qualquer insegurança.  Arthur mudou a vida da nossa família e dos amigos próximos, a forma de enxergarmos as coisas e de aproveitarmos os momentos.

Arthur e mamãe, parceria, cumplicidade e muito amor!

É trabalhoso sim, mas as recompensas são impagáveis! Um olhar, um sorriso, uma palavra, um carinho, o amor que despertou em todos ao nosso redor, não só por Arthur, mas pelo mundo da síndrome de Down em si, parece que foram milimetricamente planejados, só que dessa vez, por Deus."

O rei Arthur, vitorioso sempre!


segunda-feira, 4 de março de 2013

Post comemorativo: Doce Mel

Depois do lindo depoimento de Roberta, presenteio vocês com mais uma história de alguém que lutou com todas as forças para estar aqui em nosso convívio. Não tenho dúvidas de que saber de todo o amor que sua família nutria por ela, fez essa vontade crescer.

Menina linda, muito desejada, querida e abençoada por Deus com uma família linda e que a acolheu com muito amor. Abençoada com um lar sereno, equilibrado e  de respeito visíveis para quem os percebe mesmo que de longe.

Eu tive o prazer de passar um fim de tarde ao lado deles e posso afirmar isso com muita felicidade: Mel tem uma família adorável e muito, mas muito feliz. Felizes demais por poderem viver ao lado de uma vencedora! A história de Mel é contada por sua mãe, a linda Manuela.

"Mel desde sempre foi desejada, planejadíssima!! Queríamos uma diferença de três anos entre as duas filhotas. E assim aconteceu. Ananda nasceu 03.03.09 e Mel 29.03.12.


A expectativa!

Quando resolvemos tentar, já estávamos gravidíssimos! O inicio não foi fácil. Dois meses de repouso, risco de descolamento, enjoos diários... Quando o descolamento cessou e pensamos que tudo iria melhorar, o exame morfológico do primeiro trimestre nos surpreendeu com uma translucência nucal altíssima (6)!!!

O médico nos falou de um risco de morte intra útero de 90%. Mas, o passar do tempo nos provou o que nossa intuição já dizia sempre que ouvíamos aquele pequeno e forte coração bater a cada ultrassom realizado.

Mel foi se desenvolvendo bem. O “edema” aos poucos foi sumindo. Mas a preocupação permaneceu!! Eram muitas as possibilidades. Com 17 semanas fizemos o cariótipo. Saber que Mel tinha síndrome de Down não foi fácil, não foi mesmo!! Mas depois, o tempo passou e nossos corações cheios de amor, sempre, nos guiaram... Lemos muito, pesquisamos muito, vídeos, filmes, relatos foram compartilhados com toda a família.

Estávamos nos preparando para a chegada da pequena. Tínhamos sede de informação! Com 24 semanas, outro susto!! O ecocardiograma diagnosticou comunicação átrio ventricular. E o tempo mostrou que era uma comunicação importante, que necessitaria de cirurgia precoce, provavelmente aos três meses. Já tínhamos até o médico cirurgião!

Mel nasceu com 3 Kg, medindo 47 cm, chorando, mas já com derrame pleural à direita devido à insuficiência cardíaca. Foi para o oxigênio logo que nasceu e dele só se livrou 48 horas depois da cirurgia cardíaca, que foi realizada com 37 dias de vida! Mas antes disso penou muito, demais! Fomos de UTI aérea para São Paulo (27º dia) com quadro de insuficiência renal, após passar 12 horas sem urinar. Foi entubada, fez insuficiência hepática, apresentava plaquetas muito baixas e alterações sanguíneas que levantaram suspeitas de leucemia (síndrome transitória mieloproliferativa relacionada à SD), começou a dialisar e fez uso continuo de drogas vasoativas (dobutamina e adrenalina). Tudo parecia conspirar contra!!

A rotina da UTI maltratava... Dor maior não existia! Não poderia existir!  Até que a equipe percebeu que a única chance seria operá-la logo antes que perdêssemos a oportunidade de dar-lhe uma chance. A síndrome de Down havia virado um detalhe tão pequeno, tão insignificante... Mel foi operada após uma semana em São Paulo. Experiência surreal! Entregar sua filha, sem saber se ela voltaria... Mas, como se fosse um toque de mágica, TUDO depois da cirurgia passou a dar certo.

Primeiro que a cirurgia transcorreu sem intercorrências. Depois, Mel sangrou pouquíssimo. O apelido dela no hospital, dado pelas médicas hematologistas, passou a ser “Highlander”. A síndrome sanguínea transitória relacionada à SD havia sumido como que por encanto. Após 24 horas, os rins e fígado já funcionavam perfeitamente e, no segundo dia pós-cirúrgico, Mel foi desentubada e respirou pela primeira vez com os próprios pulmões! Emoção sem igual! Mal acreditávamos que era verdade! Isso que era felicidade!! Com 10 dias de cirurgia, descemos da UTI para o quarto onde passamos mais um mês esperando a pequena e grande guerreira ganhar peso. Tivemos alta com dois meses e meio, com o peso que nascera e praticamente sem nenhum medicamento.

Com a irmã, Ananda, só felicidade.


Mamãe, feliz com sua pequena nos braços.

 Papai, todo orgulhoso de mais uma filha linda!

Hoje, Mel, aos 11 meses, está maravilhosa, linda, esperta e sorridente! Tem uma irmã que a ama loucamente e uma família inteira sábia, que a respeita do jeitinho que ela veio a esse mundo, estimulando-a e a amando como um verdadeiro milagre da vida, da vontade de Deus!"

Manuela, mãe de Mel e Ananda.


Sorriso lindo! Agora, me digam se não é um doce essa pequena?!

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Post comemorativo: Pepeu, o guerreiro

Está chegando o mês de março e uma data que antes passava como as outras, há dois anos passou a ter um significado mais forte em minha vida.

No próximo dia 21, comemoramos o dia internacional da Síndrome de Down. Essa data passou a ter uma importância tão grande, tanto quanto os aniversários das pessoas que eu amo. É dia de celebrarmos as diferenças. É dia de comemorar a existência de pessoas que trazem uma surpresa que nos faz evoluir, amadurecer, respeitar e mais do que isso, acreditar que todos são capazes e que merecem respeito e dignidade.

Em comemoração ao dia, eu resolvi fazer um pedido a alguns amigos: que eles me enviassem um depoimento contando um pouco de suas experiências. Algumas pessoas, felizmente, se manifestaram e me presentearam com histórias lindas, emocionantes, de superação, de amor. A cada história, meu coração ficava ainda mais cheio de amor e da certeza de que as pessoas não cruzam nosso caminho por acaso. Vou postar aos poucos!

E para começar, vamos conhecer um pouco da história de Pedro, contada por sua mãe, Roberta Bartel, minha amiga. Guerreiro, menino que segundo sua fisioterapeuta,  por causa de todo o contexto (que vocês vão conhecer), "tinha tudo para dar errado", mas que surpreende lindamente e responde às terapias maravilhosamente. Pepeu é luz, ele é enviado por Deus para trazer mais amor para sua mãe, seu pai, seu irmão e toda sua família e amigos que o cercam. E eu o adoro demais. Viva Pepeu e que Deus o abençoe sempre e sempre!

 Mamãe Roberta, toda orgulhosa do barrigão

"Ahhhhh, essa vida!!!

Às vezes ela te prega umas peças que não conseguimos entender e a pergunta que não cessa é: “por que”? “pra que”? “Por que eu”?... E o tempo vai passando, os obstáculos diminuindo (ou é você que fica muito mais forte?) e sendo superados e daí você se dá conta de que tudo valeu a pena, com dor, com amor, com lágrimas de emoção e de tristeza.

Era o ano de 2011, e eu desejando loucamente engravidar novamente, 34 aninhos, idade limite para uma gestação tranqüila! Engravidei e tive descolamento, fui forçada a repouso total. Nesse meio tempo, veio a separação e com ela, tive que voltar a me mexer, já que tinha que levar meu filho, na época com 5 anos, para a escola, fazer mercado... Além do medo de perder o meu bebê, foi uma fase muito triste e estressante. Qualquer separação já dói, imagine estando grávida e numa gravidez delicada por conta do descolamento. Mas, o pré-natal estava todo bom. Fui curtindo o enxoval, o quartinho que ia se arrumando para a chegada do meu bonequinho, o irmão curtindo, conversando com ele na barriga, me ajudando na medida do possível.

O irmão, Gabriel, empolgado com a ideia de ter um amigo e companheiro!

Numa ultra de rotina, meu pequeno estava sofrendo na barriga, o coração estava desacelerando... Fui correndo para a maternidade e numa mistura de medo, ansiedade, felicidade, nasceu Pepeu, com 33 semanas e 1,700Kg. Da barriga direto para UTI NEO.

Quando pude andar, fui vê-lo, tão lindo, tão pequeno... Passei uma manhã toda com ele no colo, dengando, conversando... E no início da tarde do dia 15 de setembro de 2011, Pepeu com quase 24hs de vida, inventei de olhar o prontuário dele e lá estava escrito o que eu e nenhuma outra mãe espera: SD? SD? SD?

Ahhh, meu chão abriu, as pernas tremeram, as lágrimas desceram... e não sabia o que fazer além de chorar...  e o tal do “Por que”???? “Por que”???? Hoje vejo que o que me assustou foi minha ignorância, o não saber o que era exatamente síndrome de Down (SD), o preconceito, o medo do desconhecido, medo do futuro... Sim, eu fui de 2011 à 2060 numa fração de segundos, imaginei Peu com mãe, sem mãe, independente, dependente... O que fazer? O que é? E agora? Vai andar? Vai falar? Vai namorar? Ahhhh, não vou ser avó.... Gente, eu literalmente pirei, e o mais estranho é que pirei com um termo que não tinha nada a ver com meu filho, porque meu filho, meu Pepeu, eu já amava desde a barriga, desde quando ele era um único pontinho!

Aquela sensação de ter dois sentimentos diferentes por um único ser me deixou atordoada, muito... Ou melhor, Meu Pepeu eu já o conhecia, já o amava, mas o termo que o acompanhava, como se fosse a sombra dele, esse eu não conhecia, tinha medo... Depois do meu luto, de chorar tudo o que tinha para chorar, eu só podia fazer uma única coisa: amá-lo como sempre amei, amá-lo como ele é, amá-lo, amá-lo!!!! E foram assim os nossos primeiros dias de vida, seguia para a UTI de manhã, passava o dia com ele no colo, conversando, beijando, amamentando, cuidando, cantando... E aquele sentimento de medo “da sombra” foi sumindo e dando lugar para uma força que até então eu desconhecia.

Uma semana após o nascimento, soube da cardiopatia e que ele teria que ser operado até o sexto mês de vida. Cardiopatia grave, DSAV total... Após 15 dias na neo, fomos enfim para a casa! O irmão feliz da vida por finalmente conhecer o irmãozinho!!!! Apesar de tanta medicação, do medo de algo ruim acontecer, fomos vivendo dia após dia, convivendo, conhecendo... Com quase 4 meses de vida, Pedro entrou na UTI com muito choro, pneumonia, refluxo, hiperfluxo... e ficamos dentro de uma UTI por quase 3 meses. Paciente grave. Algumas infecções, uma febre persistente e alta, foi para a cirurgia com 39 de febre, 6hs de cirurgia, 2,5hs CEC, foi extubado e um dia depois entubado novamente, pressão 45 x 23.... Grave. Acessos, raio x, exames e mais exames de sangue...

Tanta dor e nunca se abateu, sempre com um sorriso.

Hoje olho para trás e vejo aprendizado. Um ser tão pequeno, mas de uma alma tão elevada! Ele me mostrou o que é ter garra, persistência, força de vontade, vontade de VIVER!!!! Ele me mostrou que o AMOR tem uma força tão grande e poderosa, que a FÉ é importante e fundamental. Ele me deu a oportunidade de enxergar e sentir o preconceito como um sentimento inferior, medíocre e com isso sei que hoje sou tão mais evoluída e generosa que antes. Eu e as pessoas que me cercam.

Hoje colho frutos: vejo o desenvolvimento dia a dia, engatinha, gesticula, solta uns sons tão peculiares... Um sorriso encantador, uns olhinhos vivos e curiosos... Tenho a certeza de que nada é por acaso, que Pepeu independente de qualquer coisa, é tão amado quanto Gabriel. Hoje não saberia viver sem Pedro, sem Gabriel... Cada um do seu jeito e que me completa como ser, como mãe. E isso se chama AMOR!!!!!"


 E o lindão, guerreiro Pepeu e todo amor que ele merece!

Mamãe Beta, Pepeu e o irmão, Gabriel, companheiros de todas as horas.

Após 4 anos morando em hospital no RN, menina com Down recebe alta

Fonte: Globo.com

Quatro dos cinco anos de Maria Clara Ribeiro foram vividos em um hospital. Ela tem síndrome de Down e, ao nascer, apresentou complicações no coração e no pulmão. Devido a isso, passou por várias cirurgias.

Essa realidade vai começar a mudar nesta quinta-feira (28), dia em que Maria Clara vai voltar para casa, na cidade de Nova Cruz, distante 93 quilômetros de Natal.

Maria Clara nasceu prematura aos seis meses. "Ela tinha uma doença cardíaca muito grave, que já chegou para a gente numa situação muito avançada. Além disso, ela era pneumopata. Ela tinha fístolas, novelos de sangue dentro do pulmão.

Durante o tempo em que Maria Clara esteve conosco, ela passou por oito intervenções. Ela passou por situações que podemos dizer que esteve entre a vida e a morte", falou Madson Vidal, diretor da Associação Amigos do Coração da Criança (Amico), instituição sem fins lucrativos que atende crianças cardiopatas no Rio Grande do Norte.


Tantos tratamentos e cirurgias exigiram que a dona de casa Maria Sueli deixasse tudo para trás para cuidar da filha. "Tenho outra filha, marido. Tive que deixar tudo de lado para cuidar da Maria Clara", disse.

Em outubro do ano passado Maria Clara recebeu alta do hospital para se recuperar na Amico. Nesta quarta-feira (27), a ocupação dela foi na arrumação das malas. Na Amico, ela vai deixar saudade em todos que a receberam de braços abertos.

"Maria Clara mostrou que, para os desafios da medicina, a gente é capaz de tratar essas doenças e que a gente nunca deve desistir. Apesar de todas as dificuldades, ela sempre nos apontava que era capaz e que iria sobreviver", completou Madson Vidal.


                                            Foto: Divulgação

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Notícias felizes!

Depois de palavras que assustam: notícias felizes. Sim, é verdade, demorei bastante de escrever aqui, mas estava precisando organizar os pensamentos. Foram tantas coisas que aconteceram e tantas coisas que me assustaram nos últimos meses, que acabei deixando de contar um pouco mais sobre o desenvolvimento de Lucas e até mesmo das pérolas de Mateus.

E agora, com a cabeça refeita e com a mente mais tranqüila, vamos lá!  Nossa, a última vez que escrevi aqui contando das novidades foi em setembro, ou seja, há mais de três meses... E tanta coisa aconteceu desde lá!

Até aquele momento, Lucas já ensaiava uma marcha lateralizada com apoio, engatinhava lindamente e tinha acabado de aprender a usar o canudo, uma coisa linda de ver! E agora... O canudo já é uma rotina aqui em casa, além da famosa squeeze e Lucas pede já água de um jeitinho bastante peculiar: “ada” (principalmente quando vê o irmão bebendo) e também pede as coisas com um sonoro “dá”. Algumas vezes balbucia “pa-pa”, e “ma-ma” já aconteceu de outras vezes, mas algo raro (snif!).

Mas, a conquista mais significativa dos últimos dias é que meu menino enfim tomou coragem e ANDOU! Sim, ele andou! E foi tão emocionante que eu fiquei parada olhando, aguardando, sem me manifestar, com receio de que ele perdesse o equilíbrio.

Isso vinha acontecendo devagar, em poucos passos que iam aumentando com a distância que oportunizávamos até o objeto ou pessoa desejada. E, então, ele resolveu se soltar e a cada dia anda mais e mais, ainda levanta apenas com apoio, mas já está bem mais seguro e consciente de sua autonomia. Alguns tombos, algumas lágrimas, alguns sustos, mas Lucas está lindo demais! Estamos todos muito orgulhosos dele.

E eu? Bom, como eu disse, na hora fiquei parada, depois fiquei observando, mas depois de um banho relaxante, eu desabei em lágrimas.

Lágrimas de felicidade, lágrimas de desabafo, lágrimas de alívio, lágrimas de recompensa, lágrimas de emoção, lágrimas de orgulho, lágrimas de satisfação, lágrimas de superação, lágrimas de cansaço, mas, acima de tudo, lágrimas de amor...

Estou tão orgulhosa do meu filho, tão feliz com o resultado de nosso empenho, de nossa dedicação, de nossa fé. Não, eu não desanimo nunca. Nem hei de desanimar. Meus filhos movem a minha vida. Sou capaz de tudo por eles. Vou à luta de peito aberto.

E quando eu vi meu menino dando seus passinhos desajeitados, não pude deixar de lembrar uma frase que ouvi do seu pai no momento em que o diagnóstico me fora apresentado que era mais ou menos assim, com minhas palavras, mas o sentido era exatamente esse: “meu amor, quando eu vi meu filho, olhei para o céu e disse para Deus: “Senhor, já que me confiaste essa criança, estou aqui, como soldado que sou, uniformizado e pronto para o que der e vier””.

Sim, tenho perfeita noção de que tudo o que acontece com meus filhos, especialmente com Lucas, é reflexo do quanto acreditamos neles, das oportunidades que lhes apresentamos e no quanto os amamos. Não, eu não subestimo o meu menino. Tenho certeza que essa conquista é o início de muitas outras que virão. E eu estarei assistindo a tudo no local mais privilegiado que é ao lado dele.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Palavras que assustam...

Hoje fui surpreendida, pela primeira vez, com um comentário postado aqui no blog. Depois de mais de um ano escrevendo, hoje li algo que a princípio mexeu comigo de forma negativa, mas depois de respirar, enxerguei como desabafo e exercitei minha compaixão por essa pessoa que, por motivos óbvios, não assinou seu nome. Até confesso a vocês que esperava que um dia isso podeira acontecer. Afinal de contas, quando a gente se expõe de qualquer forma, a gente tem que esperar o que vem do outro lado – nem tudo são flores!

Vamos ao comentário que vou copiar aqui exatamente como fora escrito: “Não acho que ser diferente é normal se fosse normal ter uma criança ter sd, a grande maioria da mães não ficariam triste quando descobrem que seu bebe tem sd, e também essas crianças estimulação precoce elas mesmo aprederiam sozinhas com as outras.Não acho que isso seja presente de Deus mais sim uma maldição, não gostamos simplesmente aceitamos mas se pudecemos voltar atrás para não ter engravidado voltaria para não trazer um ser inocente para sofrer aqui na terra com tanto preconceito.
Ser mãe de criança com sd é moleza tem babá pra cuidar, quero ver ser mãe de sd pobre,sem dinheiro para bancar com as necessidades que uma criança dessas precisa.” (sic).

Li, me assustei, levantei, saí para longe do computador, respirei. Voltei, sentei, e decidi: não, não vou excluir, por enquanto. Vou respondê-lo, como eu mesma escrevi em resposta ao comentário, com o carinho que precisa. Por que? Porque precisa. Precisa de carinho, precisa de compreensão e precisa MUITO da tal paciência... É visível que trata-se de alguém bem abalado, perturbado, e seja lá o que for, acho que precisa do meu apoio sim. Tudo bem, se essa pessoa não ler este post, eu me sinto bem em saber que, pelo menos, eu tentei! E de repente eu consigo atingir outras pessoas que pensam como ela. Vou responder por tópicos:

1. “Não acho que ser diferente é normal” – essa é a pergunta mais difícil e vem logo de primeira... Bom, segundo o dicionário Aurélio, a palavra normal é um adjetivo e significa “De acordo com a norma, com a regra; comum”. E isso responde ao tópico? Lógico que não, porque ainda não consegui entender em nosso mundo tão diverso de negros, brancos, amarelos, pardos, índios, gordos, magros, altos, baixos, etc, o que podemos considerar normal. Bom, mas de fato existe um tal padrão esteticamente aceitável e existem também os tais padrões de desenvolvimento, de aprendizagem, de crescimento, etc. Tratam-se, ao meu ver, de estereótipos. Não é a toa que encontramos tanta gente, em tempos atuais, se tratando de depressões, em busca do tal padrão normal. Para alguns, esse tal padrão é inatingível e, por isso, podemos considerá-lo cruel.

Pois é... Lucas, de fato, não é normal, não está no padrão esteticamente aceito, convive com algumas dificuldades para aprender, tem traços físicos que o caracterizam, além de fisiológicos. E daí? Eu continuo perguntando: quem é igual a quem e, como eu não consigo mesmo responder essa dúvida, peço auxílio dos meus leitores ou quem sabe do próprio “anônimo” que postou o comentário aqui no blog. Por favor, me ajudem!

2. “se fosse normal ter uma criança ter sd, a grande maioria da mães não ficariam triste quando descobrem que seu bebe tem sd” – hummm... é verdade... a gente fica triste mesmo. Tem gente que sente medo (eu senti demais, muito medo de perder o meu filho), tem gente que sente culpa (sinto um pouco disso também, infelizmente...), tem gente que sente nojo de si, tem gente que sente raiva, tem gente que rejeita e larga, tem gente que se sente amaldiçoado, tem gente que não digere e tem gente que simplesmente ama – sim, existe gente que ama! E como! Aliás, vou falar uma coisa, só é possível amar...

Mas, então, por que a gente chora? E quem me viu logo que Lucas nasceu, sabe o quanto eu chorei! A gente chora porque não conhece, porque é ignorante, porque é preconceituoso, porque acha que o mundo acabou, porque não sabe para onde ir, porque se sente só... muito só.  A gente chora e como chora. Conheço gente que se arrepende do tanto que chorou. Eu não me arrependo e não me culpo (viva!) disso, porque sei que as minhas lágrimas estavam repletas de amor. Eu estava preocupada. Muito preocupada com o que eu não conhecia. Preocupada com tantas avaliações, com a expectativa de vida, com cardiopatia... Eu já disse aqui: eu já amava meu filho em meu ventre, por que isso mudaria depois do nascimento? O que haveria de mudar esse sentimento? Eu sei que tem gente que rejeita filhos com deficiência, mas sei também que tem mães que rejeitam filhos quando eles nascem, mesmo sem deficiência – aquela tal de depressão pós parto, conhecem? Um corpo com hormônios em desequilíbrio faz isso com algumas mães, e isso não é “anormal”. Pelo contrário, na atualidade isso tem sido até “normal”, mas velado claro, por causa do que é aceito socialmente: mamães felizes amamentando facilmente seus bebês, lindas, com os cabelos impecáveis e as faces cheias de maquiagem. Capa de revista! Bom, eu não sou modelo, ainda bem! Sou humana, comum e cheias de defeitos e “anormalidades”. Mas, não sou tão ruim assim (risos!). Tento me manter equilibrada frente às adversidades que a vida me apresenta. Sim, eu me acho abençoada por isso. Nunca me senti amaldiçoada.

Preconceito, hum, essa palavra me causa náuseas. Comportamentos preconceituosos que antes já me abalavam, agora me enojam. Mas, uma coisa eu aprendi: preconceito é fruto da nossa ignorância e da nossa incapacidade de amar o próximo e se colocar no lugar do outro de vez em quando. Perco a conta das vezes que estou passeando com o meu galego lindo e que percebo alguns olhares curiosos... bom, quer saber alguma coisa? Aproxime-se e pergunte! Terei toda boa vontade em esclarecer as dúvidas que eu puder e mais, me sinto feliz em poder te dizer que Lucas é apenas mais um filho, com algumas necessidades especiais, mas não difere do amor que eu sinto por ele o amor que eu sinto por Mateus. Os dois são meus filhos amados. E mais, não somos coitados por isso. Somos felizes sim. É possível! Gente, infelicidade deve sentir uma mãe que não consegue alimentar seu filho ou uma mãe que perde seu filho numa casa de show que pegou fogo ou uma mãe que perde seu filho para as drogas. Isso sim é triste.

3. também essas crianças estimulação precoce elas mesmo aprederiam sozinhas com as outras” – esse trecho está um pouco truncado, mas pelo que entendi, a pessoa quis dizer que essas crianças aprenderiam sozinhas sem precisar da estimulação precoce se não fosse a síndrome, será que foi isso? Não consegui compreender, mas é o seguinte, tenho dificuldades até hoje com alguns assuntos, tipo física, química, limites, derivadas, ai... matemática me arrasa. E não me sinto orgulhosa disso não, mas é uma limitação minha. Adoro humanas, mas sou péssima em exatas. Tem gente de todo tipo, né? Canso de ver crianças “normais” em estimulação porque os pais simplesmente não entendem porque elas não aprendem. Canso de ver gente “normal” em depressão porque não se encaixa nos padrões. Bom, é verdade, eles precisam de um pouco mais de paciência, mas quem não precisa?

4. Não acho que isso seja presente de Deus mais sim uma maldição, não gostamos simplesmente aceitamos mas se pudecemos voltar atrás para não ter engravidado voltaria para não trazer um ser inocente para sofrer aqui na terra com tanto preconceito.” – ai, essa parte dá realmente vontade de chorar, mas não por mim, por essa pessoa que (como muitos) pensa desse jeito. Não dá né gente... não consigo sequer comentar, me perdoem. Acho que realmente precisa de ajuda. Eu gostaria muito de ajudar, mas se sentir amaldiçoado, já disse, não é o meu caso. Eu me sinto, de verdade, abençoada com meus filhos, cada um do seu jeitinho. Eles me alegram e me satisfazem todos os dias com suas descobertas e conquistas. É duro saber que tem gente que pensa assim, mas é real. E a culpa é de quem? Da tal ignorância... vamos ter o que? Paciência!

5. “Ser mãe de criança com sd é moleza tem babá pra cuidar, quero ver ser mãe de sd pobre,sem dinheiro para bancar com as necessidades que uma criança dessas precisa” – bom, de fato, algumas terapias que Lucas faz são particulares. Outras são cobertas pelo plano de saúde, que também é caro, é verdade. Mas, sinceramente, conheço tantas famílias endinheiradas que mal acompanham seus filhos nas terapias e, consequentemente, as crianças não evoluem. E conheço mães que buscam alternativas em faculdades, em centros do governo, organizações sociais que acompanham com tanto amor e carinho que os filhos evoluem brilhantemente. Conheço gente com síndrome de Down que vive em cidades desprovidas de estrutura no interior da Bahia e que por terem famílias que os amam e que os estimulam diariamente, que os incentivam e que acreditam neles, os resultados são surpreendentes. Bom, dinheiro gente, para muitas coisas na vida, é necessário e até pode nos dar alguns luxos, mas com certeza não é a fórmula do sucesso. Se eu pudesse pagar os melhores terapeutas, eu pagaria, mas se eu não tivesse amor, se eu não acreditasse no meu filho, de nada isso adiantaria. E a babá? Poxa, o mundo moderno nos fez, mulheres, sair de casa e ir à luta. Mulheres trabalham e muitas precisam que cuidadores para os seus filhos. Independente de deficiência. Terceirizar a educação é o que não dá, nem para a escola. A responsabilidade é nossa. Dia desses comentei com uma amiga que eu gostaria muito de poder trabalhar menos para ficar mais tempo com os meninos, sinto uma inveja daquelas mães que podem estar em casa, percebo que algumas dessas crianças se desenvolvem tão bem... mas, eu não posso... preciso trabalhar. Sustento a casa junto com meu marido, dividimos as contas. Além disso, preciso trabalhar porque gosto disso, mas, não faço hora extra. Cumpro a minha obrigação e me sinto feliz por isso. Fico ainda mais satisfeita e feliz ao chegar em casa e ser recebida com sorrisos alegres, beijos melados e abraços apertados e de poder passar algumas horas da noite juntinhos, brincando ou assistindo até a hora de dormir agarradinhos e cheios de satisfação.

Bom, não sei se todos os pais de crianças com necessidades especiais concordam com o que escrevi aqui. Mas, ao final, me sinto satisfeita e feliz. Satisfeita com o meu desabafo e feliz, porque há algum tempo tenho vontade de escrever algo assim aqui. E para finalizar, vou postar aqui alguns trechos do depoimento de uma mãe, colunista da revista Pais e Filhos com o qual muito me identifiquei:

Depoimento: o enfrentamento.

"Quando soube por meio do diagnóstico pela amniocentese que minha pequena Lorena terá síndrome de Down, não tive uma reação diferente comparada a de outros pais, ou seja, um misto de preocupação, medo, negação e tristeza invadiram meu coração. Logo eu e meu marido contamos para familiares e amigos mais próximos, que nos apoiaram prontamente, sem quaisquer reações com preconceitos ou algo similar. Assim que meu coração acalmou com o remédio chamado tempo, associado a uma boa dose de informação, consegui assimilar a síndrome e falar dela sem derramar lágrimas. Neste momento, percebi que poderia comentar sobre minha filha abertamente, pedindo ausência dos olhares de pesar das pessoas, pois para mim ela é minha segunda filha e nada diferente da primeira.
Ser gestante é, sem dúvida, estar em evidência. Todos, até quem nunca te dirigiu uma palavra sequer, perguntam algo sobre seu filho: sexo, quando nasce, nome etc. Para mim, fica um vazio imenso quando não menciono que ela será especial. Não porque ela será diferente das outras crianças em alguns aspectos e sim para evitar o diagnóstico pós-parto e comentários desagradáveis para uma mãe. Muitos pais de filhos com alguma deficiência são taxados de “coitados” ou “pessoas que estão pagando algum pecado”. Desta forma, revelando logo que serei mãe de uma menina com SD, já emendo a notícia com o fato de eu não estar triste com isso e que minha pequena é tão amada e desejada quanto sua irmã.
Certa vez meu marido me perguntou se eu não estava expondo demais meus sentimentos revelando o diagnóstico dela para todos. Eu acredito que não. Lembrei-me de um fato curioso: na época que o cantor Cazuza se contaminou com o vírus da Aids e ficou muito magro, foi indicado para ganhar um prêmio. Sua mãe indagou: “Filho, você acha válido se expor tanto, mostrando que está doente para o Brasil todo?”. E ele respondeu: “Mãe, na minha música eu digo ‘Brasil mostra sua cara’ e agora eu vou me esconder?”. Achei muito sábio e corajoso da parte do Cazuza e me espelhei nessa afirmação para minha escolha: sim, minha filha terá síndrome de Down e acabou. 
Quando a Revista Pais & Filhos me convidou para ser colunista e revelar detalhes da minha gestação e pós-parto de uma criança com SD não tive dúvidas em aceitar. Queria muito poder escrever meus sentimentos, angústias, soluções, dúvidas e alegrias e assim compartilhar informações com outras pessoas, desmitificando a síndrome e mostrando que eu sou apenas uma mãe, não mais especial que outra. Foi nessa hora que dei uma de Cazuza e mostrei a minha cara, sem medo. Acreditem, foi a melhor decisão da minha vida... Escrevendo, estou desabafando e atingindo positivamente muitas pessoas. Tenho um retorno imenso das minhas palavras, me confortando e dando apoio nesse momento delicado que estou passando. 
Um ponto interessante dos meus relatos na revista foi a quantidade de pessoas próximas a mim que me revelaram ter filhos com algum tipo de síndrome ou deficiência, algo ainda nunca exposto até então. Isso me intriga um pouco, pois eu tive uma reação tão diferente e acho que só colhi benefícios. Não tenho a menor intenção de criticar alguém, até porque cada pessoa reage de um jeito diante de um problema. Mas, sempre me questiono: por que esconder? Até quando esconder? Como esconder? Nunca tive coragem de perguntar a essas mães tais questões tão delicadas.
Finalizo esse meu relato com um conselho: encarem o desafio da sociedade preconceituosa. Mostrem suas fragilidades diante de algum problema e não temam em pedir ajuda ou até derramar algumas lágrimas em público. Isso fortalece e não derruba. Mostrar a cara para o mundo pode não ser o problema e sim solução.
Meu nome é Ivelise, estou na trigésima terceira semana de gravidez de uma menina com SD. Posso dizer com muita convicção: sou uma pessoa muito feliz."
Ivelise Giarolla é médica infectologista do Hospital São Cristóvão e do Centro de Referência DST/AIDS-SP. Mãe da pequena Marina, grávida da segunda princesa Lorena. Feliz.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Exame de sangue que detecta síndrome de Down chega ao país

Laboratórios brasileiros começam a oferecer um exame de sangue para gestantes que detecta problemas cromossômicos no feto a partir da nona semana de gravidez.

O teste é colhido no consultório como um exame de sangue comum e vai para os EUA, onde é feita a análise do material genético do feto que fica circulando no sangue da mãe durante a gestação.

A versão mais completa é eficaz para detectar as síndromes de Down, Edwards, Patau, Turner, Klinefelter e triplo X e custa R$ 3.500 no IPGO (Instituto Paulista de Ginecologia e Obstetrícia), em São Paulo.

Nos próximos meses, o laboratório do hospital Albert Einstein e o Fleury também vão comercializar exames similares, que já estão disponíveis no mercado americano há pouco mais de um ano.

Hoje, o diagnóstico dessas síndromes congênitas é feito por meio do ultrassom e do exame do líquido amniótico ou da biópsia do vilo corial, em que é retirada uma amostra da placenta. Esses testes são invasivos e trazem um risco de até 1% de abortamento.

Além de não aumentar o risco de complicações na gravidez, o novo teste pode ser feito antes dos tradicionais, indicados, em geral, a partir do início do quarto mês de gestação. O resultado fica pronto em cerca de 15 dias. Segundo o ginecologista Arnaldo Cambiaghi, diretor do IPGO, nenhuma amostra de sangue foi enviada para análise ainda.

O obstetra Eduardo Cordioli, coordenador-médico da maternidade do hospital Albert Einstein, lembra que, se o resultado do teste de sangue for positivo, o diagnóstico deve ser confirmado por meio da biópsia do vilo corial.

"O novo teste vai reduzir o número de biópsias feitas de forma desnecessária. Mas é preciso confirmar os resultados positivos."

ABORTOS

O problema é o que fazer diante de um resultado positivo. O aumento no número de abortos foi uma preocupação de grupos da sociedade civil na Europa e nos EUA após a aprovação desse tipo de teste nesses mercados.

No Brasil, o aborto é proibido a não ser em caso de anencefalia, violência sexual ou risco de vida para a gestante, mas estima-se que mais de 1 milhão de mulheres o pratiquem por ano.

"Por um lado, o exame vai tranquilizar a grande maioria que não vai ter problemas. Por outro, permite que os pais se preparem caso vão receber uma criança com alguma anomalia cromossômica", afirma Cambiaghi.

Entre as síndromes detectadas pelo exame, a de Edwards e a de Patau são praticamente incompatíveis com a vida, de acordo com Artur Dzik, diretor científico da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.

Para ele, a entrada do teste no país não deve aumentar o número de abortos porque o acesso ao exame de preço alto será restrito e porque as mulheres que vão procurá-lo já teriam indicação para realizar os testes tradicionais. "Isso vai fazer parte do pré-natal de alto risco, para mulheres com mais de 38 anos."

No caso das síndromes de Patau e Edwards, afirma Cordioli, do Einstein, é possível pedir uma autorização judicial para realizar o aborto. "Mas cada caso é analisado separadamente."

Para síndrome de Down, anormalidade cromossômica mais comum, esse tipo de autorização não pode ser pedida, porque o problema não é incompatível com a vida.

Volnei Garrafa, professor titular de bioética da UnB (Universidade de Brasília), diz que a oferta de um teste como esse e as questões morais ligadas a ele deveriam passar por uma discussão ampla, em um conselho de bioética e no Congresso.

"Para interromper a gravidez, os pais teriam de pedir liminares. Como o Legislativo não faz as leis, o Judiciário acaba fazendo, o que é uma distorção da democracia."
Editoria de Arte/Folhapress



"Criança com Down não é um fardo na vida", diz mãe
A advogada Maria Antônia Goulart, 37, é coordenadora-geral do portal Movimento Down, que reúne informações sobre a síndrome. Sua filha Beatriz, de dois anos e meio, nasceu com down.

Ela comenta o novo exame de detecção precoce de síndrome de Down.

"Descobrimos que a Beatriz tinha down quando ela nasceu. Quando a vi, ela estava ali e era minha filha, não um ser imaginário. Não tinha como não amar.

Nos exames de pré-natal, o ultrassom não deu alterações. Se na época tivesse o exame de sangue, seria melhor. Ficamos muito preocupados. A gente descobriu que tinha uma filha com isso e não sabíamos nada sobre a síndrome.

Luciana Whitaker/Folhapress
A advogada Maria Antônia Goulart, 37, e sua filha Beatriz, 2, em sua casa no Rio
A advogada Maria Antônia Goulart, 37, e sua filha Beatriz, 2, em sua casa no Rio


Quando descobrimos as doenças com maior incidência em quem tem down, demos graças da Deus por ela não ter nada. Se ela tivesse uma cardiopatia grave, não tínhamos um cardiologista lá, teria sido importante.

O exame pode dar um tempo a mais para os pais terem acesso a essas informações e vai permitir que as pessoas tomem sua decisão. Para qualquer mulher, cogitar e levar adiante a decisão de um aborto é algo muito duro. Ninguém toma essa decisão facilmente.

Quem quiser abortar vai abortar. Não cabe a mim julgar as decisões. Não acho que o jeito de resolver esse problema seja restringir o acesso à informação, à ciência.

O que acho importante como ativista e familiar de uma pessoa com down é esclarecer a sociedade de que ter um filho com a síndrome não é o fim do mundo. Tem cuidados a mais, mas é um filho que vai ter uma vida feliz, produtiva. Pessoas com síndrome de Down trabalham, namoram, têm vida social.

Julgar que as pessoas com a síndrome vão ter mais dificuldade é impedir que elas possam nos surpreender e elas sempre nos surpreendem. Hoje há mais campanhas nos meios de comunicação, temos o filme 'Colegas', com protagonistas com a síndrome, que decoram falas, compreendem a complexidade dos personagens, cumprem horários.

Isso dá a percepção de que eles podem ser felizes e acalma o coração de uma mãe que está num dilema como esse. Uma criança com down é mais um filho e não um fardo na sua vida."

Reportagem de Débora Mismetti - Editora Interina de "Ciência+Saúde" - Folha de São Paulo
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1218950-exame-de-sangue-que-detecta-sindrome-de-down-chega-ao-pais.shtml
http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/1218948-crianca-com-down-nao-e-um-fardo-na-vida-diz-mae.shtml

(grifos meus)

Recalculando Rota*

A ideia de escrever esse texto surge de uma necessidade absurda de expressar a minha gratidão. Sim, esse é o sentimento mais marcante dessa...