Prezados amigos,
foi com muita tristeza que escutei há pouco mais de 10 dias um comentário infeliz do radialista Mário Kertezs, no jornal que ele comanda pela manhã na rádio Metrópole FM aqui de Salvador, que tratava de forma preconceituosa as pessoas que frequentam a Apae. Alguns de vocês devem ter visto o comentário que eu publiquei no facebook sobre isso.
Luana Montargil, que trabalha na rádio, manteve contato comigo, mas de uma forma infeliz, tentando minimizar a suposta brincadeira do radialista, tratando como uma postura irreverente.
Enfim, ficou chato, doeu em minha pele e imagino que na de muitas famílias e amigos de pessoas com deficiência.
Uma pessoa pública, formadora de opinião, de alguma forma contribuiu para a propagação de um preconceito contra o qual lutamos diariamente.
Minha resposta para Luana foi bem simples: não sou mais sensível do que ninguém. Cada um é sensível na medida de sua dor, inclusive o senhor Mário Kertezs.
Meu amigo, Luciano Farias, pai da pequena Mel e da fofa Ananda, escreveu uma nota muito lúcida que publico aqui para conhecimento de todos e gostaria de pedir a cada um que divulgue como puder. As pessoas precisam pensar antes de falar. Tolas brincadeiras que se tornaram comuns em muitas situações machucam e alastram a doença que é o preconceito. Não podemos permitir isso.
Muito obrigada!
Foi com muita indignação que eu ouvi o Sr. Mário Kertész, no jornal da manhã na rádio metrópole no último dia 02/08/2013, tecendo comentário infeliz que atenta contra a dignidade de pessoas com necessidades especiais. Em brincadeira com o radialista Abraão Brito, o empresário perguntou se sua filha já estava namorando. Em resposta, Brito disse-lhe que não, o que instigou o âncora da rádio Metrópole a fazer uma abjeta piadinha, perguntando se a filha do colega tinha problemas, se era doente, se frequentava a APAE. O que leva um sujeito, nos dias atuais, a fazer um comentário desse tipo? Em muitos casos, a ignorância ou o preconceito são os motores de comentários dessa natureza. Como se trata de um comunicador e de uma pessoa com um nível cultural e social privilegiado, não creio que o comentário tenha sido produto do não-conhecimento da realidade das pessoas deficientes ou que frequentam a APAE.
Ao insinuar, em tom jocoso, que se a filha de Abraão Brito não namorava era pelo fato de frequentar a APAE, o Sr. Mário faz uma brincadeira de absoluto mau gosto e desmerece todas as conquistas dessas pessoas com alguma deficiência mental ou que, de algum modo, frequentam ou convivem com essa Associação. O infeliz comentário foi, ao mesmo tempo, um atentado contra as pessoas com deficiências intelectuais e contra essa prestigiada Associação. Não acredito que o Sr. Mário desconheça essa realidade, prefiro crer que ele tenha tido um lapso de amnésia. Acho que ele, como um bom comunicador, deva saber que a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) nasceu em 1954, no Rio de Janeiro e caracteriza-se por ser uma organização social, cujo objetivo principal é promover a atenção integral à pessoa com deficiência, prioritariamente aquela com deficiência intelectual e múltipla. Não recebi nenhuma procuração para defender tal entidade em relação a esse episódio, mas é informação pública e notária que a Rede APAE destaca-se por seu pioneirismo e capilaridade, estando presente, atualmente, em mais de 2 mil municípios em todo o território nacional. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Qualibest em 2006, mostrou que a APAE é conhecida por 87% dos entrevistados e tida como confiável por 93% deles. São resultados expressivos e que refletem o trabalho e as conquistas do Movimento Apaeano na luta pelos direitos das pessoas com deficiência.
Quanto às pessoas com deficiências intelectuais, Sr. Mário Kertész está precisando rever seus conceitos para enxergar o quanto esses seres humanos são dignos e conseguem, cada vez mais, inserir-se na sociedade e levar uma vida absolutamente "normal", firmando relações afetivas, namorando, casando, construindo famílias, etc. É cediço os conhecimentos eruditos e o bom nível cultural que o empresário Mário Kertész, em seus programas da rádio, demostra ter. Conhece muitos países e culturas diferentes, lê variadas literaturas e assiste a uma infinidade de filmes. Entretanto, uma pessoa tão culta e erudita e que é formadora de opinião, com uma relevante audiência, não pode fazer um comentário tão inadequado, preconceituoso e ofensivo. Já que ele assiste a tantas películas, deixo uma dica interessante para ele assistir ao multipremiado filme "Colegas". Certamente, ele vai enxergar um lado interessante e vai ver que os "frequentadores da APAE" levam uma vida como qualquer outra pessoa, apenas têm características próprias, que talvez até as tornem seres mais iluminados. Os três protagonistas do filme possuem a síndrome de down, dois deles, inclusive, são casados na vida real. Fora isso, um pouquinho mais de informação vai mostrar que os downianos estão cada dia mais surpreendendo parte da sociedade que ainda enxerga esses lindos seres humanos com o arquétipo preconceituoso dos "mongoloides". Já temos inúmeros exemplos de sucesso dessas pessoas portadoras de um cromossomo a mais: tantos escritores, universitários, professores, artistas e até mesmo uma vereadora na Espanha. São tantas e tantas conquistas que se torna anacrônica, e até mesmo vergonhosa, a existência de comentários preconceituosos acerca desses "frequentadores da APAE". Enfim, seria interessante que o Sr. Mário Kertész revisse seus (pré) conceitos e até mesmo se retratasse perante a sociedade baiana. Embora a população de Salvador já o tenha dado um sonoro não à sua pretensão de administrar a cidade, grande parte dessa mesma população, aqui me incluindo, é ouvinte de sua rádio, que, de fato, tem uma interessante grade de programas e presta bons serviços à sociedade. Por isso, ele precisa ter mais cuidado e responsabilidade em seus comentários, principalmente quando os faça com grande carga de conceitos equivocados e não condizentes com a realidade. Em arremate, registro aqui meus votos para que o Sr. Mário tenha a oportunidade de conviver mais de perto com esses "frequentadores da APAE". Quem sabe ele ainda não venha a ter um netinho(a) com a síndrome de down? E não estou aqui a lhe querer mal em retaliação ao desprezível comentário, tampouco lhe desejando infortúnios. Muito pelo contrário! Estou lhe desejando uma fantástica experiência de vida, como a que eu estou tendo, desde quando tive a oportunidade de ser pai de uma doce e encantadora menina com a síndrome de down.
Luciano Chaves de Farias (pai da downiana Mel, com 1 ano e 4 meses)
foi com muita tristeza que escutei há pouco mais de 10 dias um comentário infeliz do radialista Mário Kertezs, no jornal que ele comanda pela manhã na rádio Metrópole FM aqui de Salvador, que tratava de forma preconceituosa as pessoas que frequentam a Apae. Alguns de vocês devem ter visto o comentário que eu publiquei no facebook sobre isso.
Luana Montargil, que trabalha na rádio, manteve contato comigo, mas de uma forma infeliz, tentando minimizar a suposta brincadeira do radialista, tratando como uma postura irreverente.
Enfim, ficou chato, doeu em minha pele e imagino que na de muitas famílias e amigos de pessoas com deficiência.
Uma pessoa pública, formadora de opinião, de alguma forma contribuiu para a propagação de um preconceito contra o qual lutamos diariamente.
Minha resposta para Luana foi bem simples: não sou mais sensível do que ninguém. Cada um é sensível na medida de sua dor, inclusive o senhor Mário Kertezs.
Meu amigo, Luciano Farias, pai da pequena Mel e da fofa Ananda, escreveu uma nota muito lúcida que publico aqui para conhecimento de todos e gostaria de pedir a cada um que divulgue como puder. As pessoas precisam pensar antes de falar. Tolas brincadeiras que se tornaram comuns em muitas situações machucam e alastram a doença que é o preconceito. Não podemos permitir isso.
Muito obrigada!
NOTA DE DESAGRAVO
Foi com muita indignação que eu ouvi o Sr. Mário Kertész, no jornal da manhã na rádio metrópole no último dia 02/08/2013, tecendo comentário infeliz que atenta contra a dignidade de pessoas com necessidades especiais. Em brincadeira com o radialista Abraão Brito, o empresário perguntou se sua filha já estava namorando. Em resposta, Brito disse-lhe que não, o que instigou o âncora da rádio Metrópole a fazer uma abjeta piadinha, perguntando se a filha do colega tinha problemas, se era doente, se frequentava a APAE. O que leva um sujeito, nos dias atuais, a fazer um comentário desse tipo? Em muitos casos, a ignorância ou o preconceito são os motores de comentários dessa natureza. Como se trata de um comunicador e de uma pessoa com um nível cultural e social privilegiado, não creio que o comentário tenha sido produto do não-conhecimento da realidade das pessoas deficientes ou que frequentam a APAE.
Ao insinuar, em tom jocoso, que se a filha de Abraão Brito não namorava era pelo fato de frequentar a APAE, o Sr. Mário faz uma brincadeira de absoluto mau gosto e desmerece todas as conquistas dessas pessoas com alguma deficiência mental ou que, de algum modo, frequentam ou convivem com essa Associação. O infeliz comentário foi, ao mesmo tempo, um atentado contra as pessoas com deficiências intelectuais e contra essa prestigiada Associação. Não acredito que o Sr. Mário desconheça essa realidade, prefiro crer que ele tenha tido um lapso de amnésia. Acho que ele, como um bom comunicador, deva saber que a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) nasceu em 1954, no Rio de Janeiro e caracteriza-se por ser uma organização social, cujo objetivo principal é promover a atenção integral à pessoa com deficiência, prioritariamente aquela com deficiência intelectual e múltipla. Não recebi nenhuma procuração para defender tal entidade em relação a esse episódio, mas é informação pública e notária que a Rede APAE destaca-se por seu pioneirismo e capilaridade, estando presente, atualmente, em mais de 2 mil municípios em todo o território nacional. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Qualibest em 2006, mostrou que a APAE é conhecida por 87% dos entrevistados e tida como confiável por 93% deles. São resultados expressivos e que refletem o trabalho e as conquistas do Movimento Apaeano na luta pelos direitos das pessoas com deficiência.
Quanto às pessoas com deficiências intelectuais, Sr. Mário Kertész está precisando rever seus conceitos para enxergar o quanto esses seres humanos são dignos e conseguem, cada vez mais, inserir-se na sociedade e levar uma vida absolutamente "normal", firmando relações afetivas, namorando, casando, construindo famílias, etc. É cediço os conhecimentos eruditos e o bom nível cultural que o empresário Mário Kertész, em seus programas da rádio, demostra ter. Conhece muitos países e culturas diferentes, lê variadas literaturas e assiste a uma infinidade de filmes. Entretanto, uma pessoa tão culta e erudita e que é formadora de opinião, com uma relevante audiência, não pode fazer um comentário tão inadequado, preconceituoso e ofensivo. Já que ele assiste a tantas películas, deixo uma dica interessante para ele assistir ao multipremiado filme "Colegas". Certamente, ele vai enxergar um lado interessante e vai ver que os "frequentadores da APAE" levam uma vida como qualquer outra pessoa, apenas têm características próprias, que talvez até as tornem seres mais iluminados. Os três protagonistas do filme possuem a síndrome de down, dois deles, inclusive, são casados na vida real. Fora isso, um pouquinho mais de informação vai mostrar que os downianos estão cada dia mais surpreendendo parte da sociedade que ainda enxerga esses lindos seres humanos com o arquétipo preconceituoso dos "mongoloides". Já temos inúmeros exemplos de sucesso dessas pessoas portadoras de um cromossomo a mais: tantos escritores, universitários, professores, artistas e até mesmo uma vereadora na Espanha. São tantas e tantas conquistas que se torna anacrônica, e até mesmo vergonhosa, a existência de comentários preconceituosos acerca desses "frequentadores da APAE". Enfim, seria interessante que o Sr. Mário Kertész revisse seus (pré) conceitos e até mesmo se retratasse perante a sociedade baiana. Embora a população de Salvador já o tenha dado um sonoro não à sua pretensão de administrar a cidade, grande parte dessa mesma população, aqui me incluindo, é ouvinte de sua rádio, que, de fato, tem uma interessante grade de programas e presta bons serviços à sociedade. Por isso, ele precisa ter mais cuidado e responsabilidade em seus comentários, principalmente quando os faça com grande carga de conceitos equivocados e não condizentes com a realidade. Em arremate, registro aqui meus votos para que o Sr. Mário tenha a oportunidade de conviver mais de perto com esses "frequentadores da APAE". Quem sabe ele ainda não venha a ter um netinho(a) com a síndrome de down? E não estou aqui a lhe querer mal em retaliação ao desprezível comentário, tampouco lhe desejando infortúnios. Muito pelo contrário! Estou lhe desejando uma fantástica experiência de vida, como a que eu estou tendo, desde quando tive a oportunidade de ser pai de uma doce e encantadora menina com a síndrome de down.
Luciano Chaves de Farias (pai da downiana Mel, com 1 ano e 4 meses)
Na verdade o que afeta este senhor nao eh o preconceito, mas a arrogancia e a certeza de que ele eh superior a todos. Este tipo de conduta pedante ja eh costume de Mario Kertsz, que adora ridicularizar as pessoas. Lamentavel.
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