Em alguns momentos lembro das palavras da minha terapeuta na maternidade, quando ela foi me "visitar". Essa visita aconteceu no dia seguinte ao nascimento de Lucas, poucas horas depois da "confirmação" do diagnóstico. Naquele momento, eu estava profundamente abalada. Meus olhos não paravam de chorar, eu ainda não estava entendendo muito o que estava acontecendo, mas olhava para o meu pequenininho e queria agarrá-lo e protegê-lo daquilo que eu sentia, daquilo que as pessoas pareciam sentir por mim... Foi um momento muito delicado para mim. Naquela manhã, Marcelo ligou para Olga, minha terapeuta, e pediu que ela fosse me visitar, contou a ela que Lucas tinha nascido e da surpresa que o nascimento dele trouxe para nós.
Eu lembro que quando Mateus nasceu, eu fiquei bem sensível, os hormônios fazem isso com a gente. Uma enfermeira naquela época, me disse que sabia que o leite da mãe estava chegando quando ela estava com aquele aspecto de "acabada". Sério, ela me disse assim! Enfim, eu devia estar com uma cara péssima mesmo! Mas, como eu ia dizendo, os dias que sucederam o nascimento de Mateus foram também complicados. Mas era diferente! As pessoas adentravam o quarto e diziam : "Parabéns! Seu bebê é lindo!" ou mesmo: "é a cara do pai (ou da mãe)." Existia um clima de comemoração no ar. E mesmo com todo aquele desconforto causado pela montanha russa dos hormônios, eu estava bem.
No caso do meu Luquinha, as coisas foram bastante diferentes. Pra começar, pouca gente foi me visitar no hospital e aquelas que iam felizes, me parabenizando, logo depois que sabiam da síndrome, por mais que tentassem disfarçar, ficavam assustadas, e logo a comemoração cedia lugar a um clima de "coitados, por que com eles, meu Deus?". Claro que nem todas as pessoas tiveram essa atitude, houveram aqueles que tentaram me dar forças, me encorajar e que foram presenças muito importantes para mim. De qualquer modo, todos as visitas tiveram sua importância: estavam lá porque gostam de mim, de Marcelo ou de nossas famílias e queriam conhecer o novo integrante destas. E, de maneira alguma, estou querendo dizer que eles não foram bem vindos ou que me fizeram mal. Mas, naquele momento, muitas coisas rondavam minha mente, tais como: o medo de perder o meu filho, preocupação com o futuro dele, se eu iria dar conta de tanta responsabilidade, como seria lidar com a educação de Lucas e de Mateus, pensava em Mateus, tão pequeno e ainda precisando tanto de mim... Era realmente um momento delicado em minha vida. Talvez o mais delicado até hoje. Tanto que eu poderia narrar aqui para vocês cada segundo daqueles três dias e três noites que passei no hospital.
Bom, mas eu comecei a escrever sobre a visita de Olga. E só de olhar para ela, meus olhos encheram de lágrimas e eu chorei muito. Mas, fiquei, ao mesmo tempo, tão feliz de ter ela por perto... Era tudo o que eu precisava. Era alguém com quem eu podia desabafar sem ser julgada, sem ser condenada. Olga me ouviu e tentou me tranquilizar. Foi muito bom para mim aquela conversa e me ajudou muito a entender algumas coisas que acontecem hoje. Porque naquele momento, era mais importante o meu desabafo, mas com o tempo, vou lembrando das palavras dela e como foram muito importantes para mim.
Uma das coisas que conversei com Olga foi sobre o comportamento das pessoas que narrei anteriormente. Sobre aquilo que mais me deixava triste: me sentir vitimada. Sentir meu filho como um peso, como um coitado. Tanta gente me dizendo que eu ganhei um anjo, uma missão... Achava isso tudo um porre, uma tentativa de me consolar, de me acalmar. E eu cá pensando: ele é meu filho, meu bebê e eu não estou conseguindo perceber diferença no amor que sinto por ele, entende?! Lucas é uma criança, assim como Mateus. Meus filhos são especiais para mim, cada um do seu jeito. Perfeitos com todos os seus defeitos...
E depois de me ouvir, Olga me disse uma coisa que nunca vou esquecer: "Vaneska, você vai precisar ter paciência com esse olhar das pessoas...". Naquela hora, entendi, mas não elaborei exatamente o que ela queria me dizer. Não estava raciocinando muito bem. Mas, hoje, entendo perfeitamente. Ainda bem! Não é fácil, mas eu compreendo. Compreendo, porque um dia, certamente, já olhei assim, com esse olhar de compaixão para mães de crianças "especiais". Por isso, compreendo. Entendo até mesmo o preconceito. Este é fruto de ignorância. E somos todos ignorantes até conhecermos de perto determinadas situações. Não é fácil, repito. Mas, eu estou tentando...
No último domingo, por exemplo, levamos Lucas e Mateus à igreja para assistirmos à missa. Uma missa ainda mais especial, porque matamos a saudade das palavras iluminadas de frei Dé, com sua sensibilidade, sua habilidade, seu dom. Foi muito bom. E lá na igreja, eu percebi olhares curiosos, tentando perceber um quê de oriental em pais ocidentais. Olhares até mesmo um pouco insistentes buscando perceber os traços da síndrome e em alguns momentos, eu sentia nas pessoas a vontade de me perguntar, em outras, de me acolher, de me consolar.
O que eu posso dizer disso? Bom, de começo, posso dizer que eu não fiquei nem um pouco irritada com esses olhares, que eu não tenho em nenhum momento a intenção de esconder meu filho de ninguém, muito pelo contrário! Não tenho vergonha do meu filho lindo! Eu tenho orgulho dele! Tenho orgulho de cada conquista que ele vem nos apresentando em seus quase cinco meses. Posso dizer que aprendi a ter paciência com cada um desses olhares e como eu já disse antes, aprendi que sou muito mais forte do que eu imaginava. Aprendi que eu dou conta sim de suprir as necessidades de meu filho e que vou buscar sempre uma melhor qualidade de vida para os meus dois filhotes. Sou mãe e esse, com certeza, é o meu maior dom.
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Neska, querida! A cada novo texto seu (e eu leio todos) eu a admiro mais e o carinho que sempre senti por vc aumenta!Como você é especial! Especial pelo que sente, como sente e como divide o que sente, fazendo-nos crescer nos nossos sentimentos.
ResponderExcluirLinda de Deus!
Eu tinha um casamento para ir hoje, mas já desisti: vou visitar vocês!
Beijão!
Daniela Vilar